No início dos anos
90, cinco amigos que trabalhavam na garagem da prefeitura da cidade de Touros
no Rio Grande do Norte. Jones Grana
(vivia no escritório fotografando e pedindo
dinheiro emprestado pra consertar o seu fusquinha quebrado...), Ualiston Fortal
(um namorador tirado a forte, carregava pneus pra cima e pra baixo na oficina
pensando em seduzir as colegas de trabalho...), Natal Fraco (reclamava de tudo
com humor, e nunca tinha grana pra fazer farras com os amigos da garagem, mas
sabia temperar uma ovelha como ninguém...), Genivaldo Pardal (um maluco tirado
a professor pardal, criava cada gambiarra na oficina da garagem, e o mais
interessante é que funcionavam...), e o Milica Sabetudo (sabia tudo dos jeeps
da Segunda Guerra Mundial e de mecânica 4x4, mas sabia tudo mesmo...), tinham o
mesmo sonho, de comprar um carro importado, mas não era qualquer carro, era um
Lada Niva, um jipinho bem parecido com o Fiat 147, que acabava de chegar ao
Brasil com a reabertura da importação, afinal o presidente afirmava que nossos
carros nacionais eram uma carroça e ambos queriam andar nas dunas de Natal a 85
km da cidade de Touros. Mas o Niva naquela época custava US$10.500 aqui no
Brasil. Daí para perseguirem o sonho de ambos, juntos formaram um grupo para
jogar na loteria, especificamente na "Quina". Cada um tinha que
escolher dez números em duas apostas e juntavam às demais apostas totalizando
um bolão de dez apostas, todos os cinco ganhariam dividindo a bolada entre
eles, cada um teria 1/5 do prêmio. A sorte era lançada todas as semanas sem
falhar, os mesmos números apostados. Fraco, morava com a família na capital, em
Natal, mas passava a semana trabalhando em Touros de segunda a sexta, era o
responsável em arrecadar a grana da turma e em fazer as apostas semanalmente.
Como de costume, já com as apostas em mãos, retornando para sua família no seu
Chevette 83 amarelo, parou no posto de combustível para abastecer. Uma promoção
tentadora o atraiu como uma flechada, pagamento em cheque em 30 dias. Natal
Fraco não pensou duas vezes, desceu do carro numa pose boçal, sacou a carteira
do bolso de trás, debruçou sobre a capota do Chevette e disse: "encha o
tanque!". A viagem seguiu tranquila, quando chegou em casa sua mulher já
estava na porta nervosa, pois os colegas da garagem estavam a sua procura desde
que saiu de Touros. E logo o telefone tocou novamente, eram todos reunidos na
casa do Milica: "Fraco, você jogou na Quina?" perguntou Genivaldo
desesperado e esperançoso.
"SIM,
claro!" respondeu Fraco.
"Por que essa
sangria desatada?" perguntou por curiosidade.
Jones Grana
arrebatou o telefone da mão do Genivaldo e gritou: "Deu os nossos números
na quina, estamos ricos!"
"Quais
números?" assustado perguntou Natal.
Outro falou ao
telefone, parecia o Ualiston: "Um, dois, três, quatro e cinco, você jogou?
Confere os números aí pelo amor de Deus, estamos ricos!".
Natal Fraco abraçou
Rosinha Batista, sua Dona Patroa, e saíram pulando pela casa gritando:
"Estamos ricos, estamos ricos, estamos ricos!" Uma comemoração sem
fim. Daí Fraco lançou a mão no bolso traseiro da calça para pegar a carteira...
Um susto!
"Cadê a
carteira? Cadê minha carteira? Onde está minha carteira?"
Fraco vasculhou o
chão da casa toda, pois pulou bastante com Rosinha, levantou sofá, olhou
debaixo da mesa, no tapete e nada!
"Deve estar
dentro do Chevette, vou pegar pra conferir os números!". Uma decepção, a
carteira não estava dentro do Chevette... Talvez na capanga (pochete daquela
época) que carregava, nada... Talvez na mochila, nada... Fraco havia perdido a
carteira com o bilhete premiado da quina... O desespero e a desconfiança dos
colegas da garagem de Touros bateram. O telefone não parava de tocar, hora era
o Milica, hora era Jones Grana cobrando o bilhete premiado. Fraco havia perdido
a carteira e não sabia onde... Sentou no sofá nervoso pra lembrar quais foram
as últimas vezes que usou a carteira. Mas o telefone não parava de tocar dessa
vez eram o Genivaldo e o Fortal cobrando o bilhete premiado. Foi aí que Fraco
lembrou do abastecimento promocional de trinta dias de prazo em Touros.
"Corram pro
posto Pitomba, foi lá que usei por último a carteira!" lembrava...
Natal Fraco entrou
no Chevette amarelo e rumou-se de volta para Touros na esperança de encontrarem
a sua carteira com o bilhete premiado. Todos chegaram juntos ao posto, Jones
Grana, Ualiston Fortal, Genivaldo Pardal e o Milica Sabetudo.
Nada, nenhuma
carteira foi encontrada no posto Pitomba.
Em 45 minutos Fraco
chegou ao local. Os colegas da garagem quase o espancavam, todos nervosos. Mas
deram um voto de confiança. "E agora o que fazer pra achar essa
carteira?" perguntou o Milica.
"O único jeito
é fazer o caminho que ele fez até Natal, a pé." disse Fortal e apoiado por
Genivaldo.
"Sim, vamos
fazer os 10 primeiros quilômetros..." sugeriu Jones Grana.
E assim fizerem em
revezamento de cada quilômetro de dois em dois até fechar os 10 km. Sem sucesso.
Todos a crucificar
Natal Fraco pelo vacilo que deu em perder a carteira com bilhete premiado, uns
com vontade nos olhos de linchamento. Foi aí que surgiu a ideia do Jones Grana
(o cinegrafista amador de aniversário de 15 anos) em procurar as emissoras de
tv e rádio de Touros para apelar pela carteira perdida com o bilhete premiado.
Primeiro foram na rádio Farol e depois na TV Cabugi. Um "badameiro" assistiu
ambos apelos pela rádio e tv, resolvendo se dispor a procurar a carteira com o
bilhete premiado da quina. Fez todo o roteiro que um carro faria após sair do
posto Pitomba, a pé. E não é que achou a carteira no km 2! Só que para entregar
a carteira ele queria participar da partilha do prêmio, ou seja, queria 1/6 da
cota do grupo. Chamou o seu sobrinho e pediu que procurasse o dono carteira
para negociar 1/6 do prêmio ou nada! E que iria se esconder na roça até
decidirem o aceite. O grupo se reuniu e decidiu partilhar 1/6 do prêmio da
quina com o "badameiro" e uma porcentagem da negociação com o
sobrinho dele. Todos ficaram bem remunerados e o Natal Fraco escapou ileso de
pressuposto linchamento... Daí nasceu à primeira frota de Lada Nivas no Rio
Grande do Norte, e porque não dizer do Nordeste?
Compraram cinco
Ladas Niva, de uma só vez, à vista, dois brancos e dois grenás, e o teimoso e
sobrevivente do Natal Franco como só queria um amarelo, mandou pintar...
Ufa!
Atenção: Qualquer
semelhança entre os personagens e fatos com certeza é mera coincidência, isso é
pura ficção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário