Ney comprou seu
Troller e ficou todo empolgado que enfim poderia fazer
muitas viagens com muito conforto, ir e vir no aconchego de bancos reclináveis, ar-condicionado e um bom CD de trilha sonora. Toyota nunca mais, pensava ele.
muitas viagens com muito conforto, ir e vir no aconchego de bancos reclináveis, ar-condicionado e um bom CD de trilha sonora. Toyota nunca mais, pensava ele.
Numa de suas
primeiras peregrinações com o novo jipe, decidiu dar uma volta na Serra da
Bocaina, num sábado. Saiu sozinho de casa, pegou a Dutra, passou por Areias,
São José do Barreiro, e já no final da tarde estava vendo aquelas lindas
paisagens de serras inarráveis.
Repentinamente, o
dia começou a escurecer antes da hora, advertindo que uma tempestade estava por
vir. Mas Ney nem se importa. Meu jipe topa tudo, pensava ele ao ver o céu
enegrecer em todo o horizonte.
A chuva então
rapidamente se iniciou, tornando-se cada vez mais forte, conjuntamente com a
chegada impiedosa da noite, que lançava um completo véu de escuridão sobre o
Troller, que se tornava insignificante naquele mar de serras e água que agora
compunha a paisagem do local. Ney se esforça na pilotagem, tentando vencer
aquelas agora escorregadias estradas de serra, mantendo o rosto colado no
vidro, na vã tentativa de enxergar melhor o caminho que desaparecera de sua
frente. Entretanto, em pouco menos de
meia hora, o que Ney mais temia, acontece novamente com ele: O limpador de para-brisa
pifa novamente.
Nosso amigo sabe
que não adiante tentar o conserto naquele local, debaixo de chuva, e ainda mais
naquela escuridão sem fim. Este defeito já havia acontecido antes, e ele não
quis trazer o junto o Américo, amigo jipeiro e eletricista, companheiro de
longas viagens, então sabia que nada podia ser feito. O eixo do motor devia ter
se quebrado de novo.
A única forma que ele
encontra é prosseguir sem limpador mesmo, dirigindo ainda mais devagar, com o
rosto ainda mais colado ao vidro, na tentativa de chegar de volta à cidade,
onde poderia, novamente, chamar o guincho para levá-lo de volta para casa em
segurança.
Mas o destino não
quis que nosso amigo atingisse seu intento. Poucos minutos depois, sem
condições de visibilidade, ele não vê um toco de árvore e dá com o para-choque
nele.
Como era de se
prever lá se vão às lentes de seus óculos, espatifadas contra o para-brisa.
Agora sim, sem condição alguma de prosseguir no jipe, Ney não tem alternativa
senão caminhar um pouco e ficar na beira de uma estrada secundária e torcer
para alguém aparecer e lhe dar uma carona.
Nenhum carro
passava, e a tempestade estava tão furiosa que ele não conseguia ver dois
palmos à frente de seu nariz...
Como companhia, ele
só tinha a garrafa de conhaque que leva sempre na caixa de primeiros socorros,
e que já estava pela metade quando algum tempo depois, ele vê uma luz a
distância. Lentamente, a luz começa a se aproximar dele e começa a dividir em
duas.
- Hei, isto parece
que são faróis de algum carro, estou salvo!
As luzes se
aproximam ainda mais, e ele com o pouco da visão que ainda lhe resta sem os
óculos, afirma: - Hei, não é um carro, é
um NIVA!
O Niva então
continua sua trajetória, lentamente em direção ao local onde nosso amigo está
abrigando-se da chuva, sob uma grande árvore na beira da estrada. Deve estar em
primeira reduzida, tentando evitar algum acidente, por isto vem tão lento,
pensa Ney. Radiante de emoção no momento em que o Niva para a seu lado, ele
abre a porta do carona e já salta de imediato para dentro do carro, fechando a
porta respirando aliviado.
Entretanto, ao
virar-se para o condutor para agradecer, se depara com um fato assustador: Não
existe ninguém no banco do motorista!!!
Neste mesmo momento
o Niva retorna o trajeto, lento e pausadamente como antes, e Ney ainda
petrificado de medo pelo que lhe está acontecendo, olha para a estrada, e vê
uma curva perigosa a se a aproximar cada vez mais. Aterrorizado, e ainda mal refeito do choque
de se encontrar num Niva fantasma, Ney começa a rezar fervorosamente para que a
sua vida seja poupada...
E é nesse instante,
quando a curva se encontra a apenas alguns poucos metros do carro, que,
repentinamente, uma mão surge da janela do carro e move o volante...
Ele, paralisado de
terror e medo, continua a observar as constantes aparições da mão, antes de
cada curva daquele sinuoso caminho e a cada curva, toma um gole do conhaque,
para ajudar a acalmar os nervos. Depois
de algum tempo, já não suportando mais o terror e medo daquela situação
fantasmagórica, e já tendo secado a garrafa de conhaque, Ney resolve reunir as
escassas forças que ainda possuía, cria coragem e salta do carro em movimento,
corre desesperado sem parar para olhar para trás em direção de São José do
Barreiro, deixando seu Troller abandonado, e o Niva fantasma a percorrer aquele
tortuosa rota, que um dia serviu para levar as riquezas do Vale do Paraíba para
o porto de Paraty e hoje traz o terror à aquele combalido homem.
Depois de muito
correr, cansado, encharcado e em estado de choque, consegue chegar ao final da
estrada, chega à periferia da cidade, onde entra num bar e emborca sem
pestanejar, ainda arfante, dois copos da pior cachaça da casa. Após retomar o fôlego e parar a tremedeira,
começa a relatar debilmente e em altos brados o fato fantasmagórico que lhe
havia acontecido, perante o olhar estarrecido dos outros clientes do
estabelecimento.
Entretanto, meia
hora mais tarde, quando dezenas de pessoas já o rodeavam para ouvir aquele
assustador relato, e o assunto já se espalhava por toda a pequena São José do
Barreiro, dois homens entram no mesmo bar, ainda mais encharcados que ele, ao
se depararem com o Ney no centro das atenções, exclamam um para o outro: "Olha
lá! Aquele coroa não é o retardado que entrou no nosso carro quando o estávamos
empurrando, não falou nem obrigado, e ainda sai correndo no meio da estrada
feito um louco quando já estávamos perto de chegar na cidade ???
Causo originalmente
publicada em Junho/2003 na Revista Tribo Off Road - Número 5
www.jcpirituba.com.br
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Visite a página "Casos & Causos do Lada Niva"
http://grauca4x4.blogspot.com.br/p/causos-acasos-de-niveiros.html
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Um comentário:
Adorei a história!
estou rindo nostalgicamente e admirado ainda mais pelo causo... simplesmente fantástico! alias história digna de um verdadeiro serial thriller de terror!
Amigo Grauçá é uma honra telo no mundo dos niveiros, somente você consegue algo que inusitadamente surpreende a todos! Meus parabéns.
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