12 de abr. de 2015

Meu primeiro apuro com Sarna – Causos & Acasos (post 1058)



Mauricinho nosso personagem de hoje foi até a oficina em São Paulo para pegar o seu Niva. O mecânico havia feito uma revisão completa, trocando o que
estava ruim e ajustando tudo que fosse preciso. O seu Niva estava pronto, mesmo assim o mecânico avisou que ainda faltavam algumas coisinhas na parte elétrica, mas que o carro estava em condições de viajar para São João da Boa Vista, pois era um pouco mais que 200km. Almoçou com amigos Niveiros e seguiu. Lembrou que era sexta-feira típica paulistana, o trânsito infernal, na base do para e anda. Mal tinha andado 10km percebeu a  temperatura do motor subindo, quase batendo no final da escala do marcador. Der repente o carro para, morre, e não pega mais... Estava na pista da esquerda, tentando fugir do tráfego para a zona leste. Tentou dar a partida uma, duas, três, quatro, várias vezes e nada do carro pegar.
Menos de um minuto depois, aparece um "marronzinho", um funcionário da CET de moto: “...Vamos jogar o carro no canteiro, vamos jogar o carro no canteiro!!!...”
Rapidamente, com ajuda de uns vendedores ambulantes do local, o carro é empurrado para cima do canteiro central da 23 de Maio.
“...Agora você aciona o seguro!!!...” diz o "marronzinho".
“...Eu não tenho seguro, por favor peça para uma picape da CET vir me ajudar!...” Pediu humildemente o nosso personagem Mauricinho.
Se o “marronzinho” ouviu ele, não sabia, pois não mostrou qualquer interesse, e lá se foi, provavelmente com a sensação de dever cumprido, deixando-o meio do canteiro com o carro sem funcionar.
Um dos ambulantes chega perto e avisa quase como tom de ameaça: “...é melhor você sair logo daqui, depois de anoitecer fica muito perigoso!...”
O Mauricinho estava quase incomunicável, seu smartphone era um verdadeiro devorador de carga de bateria, estava com menos de 5% da autonomia, suficiente para uns três telefonemas, no máximo. Ligou para uns amigos pedindo socorro e que mandasse um guincho, pois já tinha tentado faze-lo pegar no tranco, sem resultados. Na sequência, o celular morre da mesma forma que o carro. Agora sim incomunicável.
Pensando no que fazer tentou pedir ajuda para os outros motoristas, pois o trânsito continuava pesado. Só palavras solidárias... No máximo, uma chamada para a CET. Tentou parar um guincho de seguradora, mas foi ignorado, apesar da insistência. Entrou no carro para esperar, imaginando que alguém ainda poderia vir a socorrê-lo.
De repente, uma pessoa começa a bater na janela do carro, era um rapaz de uns dezessete anos, no mínimo, tinha uma expressão ameaçadora e falava:
“...Tio, passa o que você tiver para cá!...”
Disse Mauricinho que não tinha nada, apenas um carro com defeito, como ele mesmo podia ver...
“...Vamo, Tio! Passa o que você tiver!...”
Saiu do Niva, gritando que nada tinha, o rapaz se afastou, foi então que percebeu que estava cercado por outras "crianças", eram umas dez, no mínimo.
Se ele desse algum dinheiro provavelmente a turba toda cairia pra cima, levando carteira, mala de viagem, pois havia chegado aquele dia a São Paulo, de ônibus, e o que mais conseguissem carregar.
Ficou corajosamente do lado de fora do carro, encarando uns e outros. Não se sabe se foi por medo ou pena, eles se mantiveram a distância.
Foi quando avistou chegando uma viatura da Rota. Correu para a pista, gesticulando e gritando por socorro, o grupo dispersou e sumiu da vista, a viatura parou. Pediu ajuda para os policiais, explicando a situação, um soldado disse que eles estavam indo atender a uma diligência e que não poderiam ficar ali, pediu que chamassem outra viatura, pois estava na iminência de ser assaltado. Ouviu uma desculpa e o soldado disse que não poderia fazer nada. A viatura saiu cantando pneus, pelo menos, o grupo se dispersara e ele sozinho novamente.

A tarde já tinha virado noite, mas o trânsito continuava pesado no sentido da zona norte...
“...vou pegar minhas coisas e largar o carro!...” pensou.
Mas teria de atravessar a 23 de Maio para chegar a calçada, naquela região, a avenida é murada, dificultando qualquer acesso a pé, o local não era nada convidativo e eu ainda correria o risco de ser assaltado. Além disso, o carro seria completamente depredado, era uma situação do tipo "se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come".
Do nada, aparece um Voyage modelo antigo, que sobe no canteiro e para do lado do Niva. Não o reconheceu no momento o amigo mecânico, não era o Guru, que o telefonara uma hora antes, demorou instantes até cair a ficha que alguém parou para ajudar! Ele perguntou o que tinha acontecido, rapidamente pegou uma bateria reserva, colocou no Niva e Vruummm!!!... O carro pegou, finalmente!
“...Vamos embora! Rápido!...” disse ele. Entre parar e trocar a bateria, não tinham se passado mais do que dois minutos. Com o carro funcionado, voltou a pista da 23 de Maio. Mesmo com a temperatura subindo novamente, conseguiu chegar a casa da sua minha mãe. Ufa!

Dia seguinte, passou na oficina para agradecer e pagar o seu salvador e ele disse: “...eu lhe salvei de uma boa. Você não reparou que havia um monte de gente na sombra de uma árvore a uns dez metros do carro? Eles estavam se preparando para te pegar!...”
Foi uma experiência terrível que o Niveiro passou, que não se deseja a ninguém, mas infelizmente estamos todos sujeitos a passar. Não percamos a fé, mas mantenhamos nossos carros revisados...
.
.
.
Por: Mauricio de Oliveira
.
.

.

Um comentário:

Unknown disse...

Que sufoco!!!! Mas felizmente com um final feliz! Estava relativamente perto. Se houvesse alguma forma de comunicação ficaria facil acionar o socorro.