29 de mai. de 2020

A Carteira Perdida Com Bilhete Premiado e a Frota de Nivas (post 1220)




No início dos anos 90, cinco amigos que trabalhavam na garagem da prefeitura da cidade de Touros no Rio Grande do Norte. Jones Grana
(vivia no escritório fotografando e pedindo dinheiro emprestado pra consertar o seu fusquinha quebrado...), Ualiston Fortal (um namorador tirado a forte, carregava pneus pra cima e pra baixo na oficina pensando em seduzir as colegas de trabalho...), Natal Fraco (reclamava de tudo com humor, e nunca tinha grana pra fazer farras com os amigos da garagem, mas sabia temperar uma ovelha como ninguém...), Genivaldo Pardal (um maluco tirado a professor pardal, criava cada gambiarra na oficina da garagem, e o mais interessante é que funcionavam...), e o Milica Sabetudo (sabia tudo dos jeeps da Segunda Guerra Mundial e de mecânica 4x4, mas sabia tudo mesmo...), tinham o mesmo sonho, de comprar um carro importado, mas não era qualquer carro, era um Lada Niva, um jipinho bem parecido com o Fiat 147, que acabava de chegar ao Brasil com a reabertura da importação, afinal o presidente afirmava que nossos carros nacionais eram uma carroça e ambos queriam andar nas dunas de Natal a 85 km da cidade de Touros. Mas o Niva naquela época custava US$10.500 aqui no Brasil. Daí para perseguirem o sonho de ambos, juntos formaram um grupo para jogar na loteria, especificamente na "Quina". Cada um tinha que escolher dez números em duas apostas e juntavam às demais apostas totalizando um bolão de dez apostas, todos os cinco ganhariam dividindo a bolada entre eles, cada um teria 1/5 do prêmio. A sorte era lançada todas as semanas sem falhar, os mesmos números apostados. Fraco, morava com a família na capital, em Natal, mas passava a semana trabalhando em Touros de segunda a sexta, era o responsável em arrecadar a grana da turma e em fazer as apostas semanalmente. Como de costume, já com as apostas em mãos, retornando para sua família no seu Chevette 83 amarelo, parou no posto de combustível para abastecer. Uma promoção tentadora o atraiu como uma flechada, pagamento em cheque em 30 dias. Natal Fraco não pensou duas vezes, desceu do carro numa pose boçal, sacou a carteira do bolso de trás, debruçou sobre a capota do Chevette e disse: "encha o tanque!". A viagem seguiu tranquila, quando chegou em casa sua mulher já estava na porta nervosa, pois os colegas da garagem estavam a sua procura desde que saiu de Touros. E logo o telefone tocou novamente, eram todos reunidos na casa do Milica: "Fraco, você jogou na Quina?" perguntou Genivaldo desesperado e esperançoso.
"SIM, claro!" respondeu Fraco.
"Por que essa sangria desatada?" perguntou por curiosidade.
Jones Grana arrebatou o telefone da mão do Genivaldo e gritou: "Deu os nossos números na quina, estamos ricos!"
"Quais números?" assustado perguntou Natal.
Outro falou ao telefone, parecia o Ualiston: "Um, dois, três, quatro e cinco, você jogou? Confere os números aí pelo amor de Deus, estamos ricos!".
Natal Fraco abraçou Rosinha Batista, sua Dona Patroa, e saíram pulando pela casa gritando: "Estamos ricos, estamos ricos, estamos ricos!" Uma comemoração sem fim. Daí Fraco lançou a mão no bolso traseiro da calça para pegar a carteira...
Um susto!
"Cadê a carteira? Cadê minha carteira? Onde está minha carteira?"
Fraco vasculhou o chão da casa toda, pois pulou bastante com Rosinha, levantou sofá, olhou debaixo da mesa, no tapete e nada!
"Deve estar dentro do Chevette, vou pegar pra conferir os números!". Uma decepção, a carteira não estava dentro do Chevette... Talvez na capanga (pochete daquela época) que carregava, nada... Talvez na mochila, nada... Fraco havia perdido a carteira com o bilhete premiado da quina... O desespero e a desconfiança dos colegas da garagem de Touros bateram. O telefone não parava de tocar, hora era o Milica, hora era Jones Grana cobrando o bilhete premiado. Fraco havia perdido a carteira e não sabia onde... Sentou no sofá nervoso pra lembrar quais foram as últimas vezes que usou a carteira. Mas o telefone não parava de tocar dessa vez eram o Genivaldo e o Fortal cobrando o bilhete premiado. Foi aí que Fraco lembrou do abastecimento promocional de trinta dias de prazo em Touros.
"Corram pro posto Pitomba, foi lá que usei por último a carteira!" lembrava...
Natal Fraco entrou no Chevette amarelo e rumou-se de volta para Touros na esperança de encontrarem a sua carteira com o bilhete premiado. Todos chegaram juntos ao posto, Jones Grana, Ualiston Fortal, Genivaldo Pardal e o Milica Sabetudo.
Nada, nenhuma carteira foi encontrada no posto Pitomba.
Em 45 minutos Fraco chegou ao local. Os colegas da garagem quase o espancavam, todos nervosos. Mas deram um voto de confiança. "E agora o que fazer pra achar essa carteira?" perguntou o Milica.
"O único jeito é fazer o caminho que ele fez até Natal, a pé." disse Fortal e apoiado por Genivaldo.
"Sim, vamos fazer os 10 primeiros quilômetros..." sugeriu Jones Grana.
E assim fizerem em revezamento de cada quilômetro de dois em dois até fechar os 10 km.  Sem sucesso.
Todos a crucificar Natal Fraco pelo vacilo que deu em perder a carteira com bilhete premiado, uns com vontade nos olhos de linchamento. Foi aí que surgiu a ideia do Jones Grana (o cinegrafista amador de aniversário de 15 anos) em procurar as emissoras de tv e rádio de Touros para apelar pela carteira perdida com o bilhete premiado. Primeiro foram na rádio Farol e depois na TV Cabugi. Um "badameiro" assistiu ambos apelos pela rádio e tv, resolvendo se dispor a procurar a carteira com o bilhete premiado da quina. Fez todo o roteiro que um carro faria após sair do posto Pitomba, a pé. E não é que achou a carteira no km 2! Só que para entregar a carteira ele queria participar da partilha do prêmio, ou seja, queria 1/6 da cota do grupo. Chamou o seu sobrinho e pediu que procurasse o dono carteira para negociar 1/6 do prêmio ou nada! E que iria se esconder na roça até decidirem o aceite. O grupo se reuniu e decidiu partilhar 1/6 do prêmio da quina com o "badameiro" e uma porcentagem da negociação com o sobrinho dele. Todos ficaram bem remunerados e o Natal Fraco escapou ileso de pressuposto linchamento... Daí nasceu à primeira frota de Lada Nivas no Rio Grande do Norte, e porque não dizer do Nordeste?
Compraram cinco Ladas Niva, de uma só vez, à vista, dois brancos e dois grenás, e o teimoso e sobrevivente do Natal Franco como só queria um amarelo, mandou pintar...
Ufa!



Atenção: Qualquer semelhança entre os personagens e fatos com certeza é mera coincidência, isso é pura ficção.



Nenhum comentário: